Será que os diabéticos podem tomar creatina livremente ou o suplemento exige cautela por parte dos pacientes que sofrem com a doença? Para responder a essa pergunta, precisamos conhecer melhor tanto a doença quanto a creatina.
A diabetes é uma doença que ocorre quando a taxa de glicose sanguínea, também conhecida como os níveis de açúcar no sangue, está muito alta.
Entretanto, quando falamos na doença, também precisamos mencionar a insulina, um hormônio produzido pelo pâncreas, que tem a função de ajudar a glicose a chegar nas células para ser usada como energia.
Em um quadro de diabetes, o organismo não produz uma quantidade suficiente ou qualquer quantidade de insulina ou não utiliza o hormônio apropriadamente. Com isso, a glicose permanece no sangue e não chega às células.
A creatina
Por sua vez, a creatina é um aminoácido ou um grupo de aminoácidos, composto pela glicina, pela metionina e pela arginina, presente principalmente nos músculos, mas que também pode ser encontrado no cérebro.
Aproximadamente metade do estoque de creatina do organismo vem da dieta, através de alimentos como carne vermelha (carne de porco e bovina), peixes e frutos do mar e leite de origem animal (vaca, cabra e ovelha).
Já a outra metade é produzida naturalmente no fígado, rins e pâncreas, que disponibilizam cerca de 95% da creatina aos músculos esqueléticos para ser usada durante a prática de exercícios físicos. O resto vai para o coração, o cérebro e outros tecidos.
Como suplemento, a creatina é famosa entre os que buscam o aumento da massa muscular.
Embora esse não seja o seu efeito direto, afinal ainda é preciso treinar para alcançar a hipertrofia, o suplemento oferece energia para os músculos, eleva a tolerância do praticante ao esforço e retarda a fadiga, contribuindo para que ele possa usar cargas maiores e ter um melhor desempenho na atividade.
Além disso, a creatina é conhecida por auxiliar na melhora da recuperação muscular após a prática dos exercícios físicos, período crucial para estimular o crescimento das fibras musculares e prevenir lesões. Saiba mais sobre o que é, para que serve e como usar a creatina.
Diabéticos podem tomar creatina?
Diabéticos tipo 1 ou 2 que desejam usar suplementos alimentares, de qualquer modelo ou marca, precisam consultar o médico e o nutricionista que o acompanham, orientação que também vale para a creatina.
Isso porque há uma série de fatores que precisam ser avaliados antes de encontrar uma creatina adequada para uma pessoa com diabetes: por exemplo, se a sua doença está controlada, a composição nutricional do suplemento, os remédios e outros suplementos que ela já usa se, se a creatina se encaixa na dieta escolhida para o tratamento e a forma segura de usar a creatina de acordo com o quadro do paciente.
Por exemplo, alguns relatos indicam que a creatina pode diminuir os níveis de açúcar no sangue e interagir com certos remédios, como os utilizados para controlar a glicose no sangue, que podem fazer parte do tratamento de um diabético.
O risco de usar o suplemento e um medicamento do tipo ao mesmo tempo seria a ocorrência de crises de hipoglicemia.
Mas, isso não sugere que você deva trocar o tratamento ou remédio para diabetes que o seu médico indicou pelo uso de creatina, o que pode ser perigoso. A ideia é continuar a seguir o tratamento e buscar a orientação do médico e nutricionista para saber como utilizar a creatina de maneira segura para o seu quadro de diabetes.
Além disso, outro motivo porque o acompanhamento médico e nutricional é fundamental na hora do diabético escolher uma creatina é que existe tanto a versão pura do suplemento de creatina quanto a versão do suplemento que combina a creatina com um carboidrato, como a maltodextrina.
A quantidade de carboidrato presente no suplemento não puro pode variar conforme a marca, mas geralmente encontra-se produtos com 2 a 5 gramas de carboidratos por porção.
O diabético precisa estar atento a isso porque quando uma pessoa consome algo com carboidratos, o seu sistema digestivo quebra os carboidratos digeríveis na forma de açúcar, que vai parar na corrente sanguínea, afetando assim os níveis de açúcar no sangue.
Creatina como auxiliar no tratamento de diabetes tipo 1
Em 2022, o site do Governo Federal noticiou que um estudo de autoria dos mestres em bioquímica e biologia molecular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Matheus Anselmo Medeiros e Meline Gomes Gonçalves, analisou os efeitos da suplementação de creatina como terapia auxiliar no tratamento da diabetes tipo 1.
Segundo Matheus, a pesquisa de caráter inicial apresentou resultados promissores: o uso da creatina testado em laboratório diminuiu os níveis de glicemia entre 15% e 20%, em comparação com os diabéticos não suplementados.
Entretanto, como esses estudos foram iniciais, é preciso aguardar o resultado de mais experimentos para saber se e como o suplemento poderia ser utilizado como parte do tratamento da doença.
Além disso, Milene advertiu que é importante e necessário contar com o acompanhamento médico e nutricional ao usar qualquer tipo de suplemento, uma vez que cada organismo reage de uma maneira.
A questão dos rins
Os rins não podem ser deixados de lado quando o assunto é se os diabéticos podem tomar creatina. Isso porque alguns especialistas advertem que o consumo excessivo do suplemento, mais de 30 gramas por dia, em longo prazo pode levar a disfunções nos rins, ainda que os estudos sobre o tema sejam limitados e inconclusivos.
O que acontece é que a ingestão exagerada e por longos períodos da substância aumenta a concentração de creatinina, podendo resultar em um comprometimento dos rins.
Por isso, é recomendado para qualquer pessoa, independente de ter diabetes ou não, sempre buscar a orientação de um médico ou nutricionista antes de começar a usar a creatina e não ultrapassar a dosagem recomendada do suplemento.
Porém, esse cuidado e o acompanhamento de um profissional de saúde são ainda mais importantes para as pessoas com diabetes porque a doença está relacionada a problemas nos rins.
Segundo o Centers for Disease Control and Prevention (Centros de Controle e Prevenção de Doenças, CDC) dos Estados Unidos, quem tem diabetes deve ter os seus rins examinados regularmente.
O órgão ainda alertou que a doença renal crônica é comum em pessoas com diabetes e que tanto a diabetes tipo 1 quanto a tipo 2 podem causar doença renal.
Mas, o que acontece? Bem, os rins são compostos por milhões de pequenos filtros conhecidos como néfrons ou nefrónios. Com o passar do tempo, os níveis altos de açúcar no sangue da diabetes podem danificar os vasos sanguíneos nos rins, assim como os néfrons, que passam a não funcionar tão bem como deveriam.
Além disso, muitas pessoas com diabetes também têm pressão alta, condição que também pode trazer problemas para os rins.
Para o médico clínico geral e reumatologista Milton da Silveira Pedreira Neto, em resposta no site Doctoralia, se a função renal da pessoa com diabetes estiver comprometida, então o suplemento é contraindicado para ela.
Já para a endocrinologista Rafaela Fontenele, em conversa com o pessoal do GQ, se o diabético estiver com a função renal comprometida, é necessário dosar a quantidade de creatina para que ela não provoque mais danos aos rins.
Vídeo relacionado:
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Fontes e referências adicionais
- What is diabetes?, National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases.
- Creatine, Icahn School of Medicine at Mount Sinai.
- Diabetes and chronic kidney disease, Centers for Disease Control and Prevention.
- Uso de creatina pode reduzir níveis de açúcar no sangue, Ministério da Educação, Governo Federal.
- Carbohydrates and blood sugar, Harvard T.H. Chan School of Public Health.
Fontes e referências adicionais
- What is diabetes?, National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases.
- Creatine, Icahn School of Medicine at Mount Sinai.
- Diabetes and chronic kidney disease, Centers for Disease Control and Prevention.
- Uso de creatina pode reduzir níveis de açúcar no sangue, Ministério da Educação, Governo Federal.
- Carbohydrates and blood sugar, Harvard T.H. Chan School of Public Health.