Com a necessidade de evitar aglomerações e as medidas de quarentena, isolamento e distanciamento social para combater a pandemia do novo coronavírus e a doença provocada por ele, a COVID-19, as academias foram fechadas e as pessoas passaram a ficar a maior parte do tempo em casa, saindo somente em caso de urgência.
Enquanto alguns são mais precavidos e recorrem aos treinos em casa durante o surto do novo coronavírus, outros optam por se exercitar ao ar livre, ainda que um estudo tenha mostrado como o novo coronavírus pode ser transmitidos durante os treinos ao ar livre.
Depois que o uso de máscaras de tecido ao sair na rua passou a ser exigido, aqueles que treinam ao ar livre podem se questionar se elas devem ser utilizadas também durante a prática de exercícios. Além disso, quando a pandemia se acalmar, a quarentena for relaxada e as academias forem reabertas, ainda será necessário ter muitos cuidados. Mas será que isso também significa ter que usar as máscaras de pano na academia?
Sim, é bem possível que isso seja necessário, uma vez que não dá para esperar retornar à normalidade de um dia para o outro; isso provavelmente acontecerá de maneira gradual e rodeado de precauções. Ao mesmo tempo, usar máscaras ao se exercitar não parece ser a coisa mais confortável do mundo, requer alguns cuidados e pode não ser indicado para todo mundo.
O fisioterapeuta e especialista em força e condicionamento Grayson Wickham afirmou que a maioria das pessoas pode praticar qualquer tipo de exercício com uma máscara facial. Entretanto, Wickham também advertiu que ao treinar de máscara é importante que o participante monitore como se sente e fique atento ao aparecimento de sintomas como vertigem, tontura, dormência, formigamento e falta de ar.
Essa atenção aos sinais que o corpo dá é especialmente importante durante a realização de exercícios de intensidade mais elevada como levantamento de peso com carga pesada, sprints, pliometria, crossfit, treino intervalado de alta intensidade (HIIT, sigla em inglês) e cardio.
As pessoas que não estão acostumadas a se exercitar ou não treinam há bastante tempo precisam tomar um cuidado extra ao praticar atividades físicas com uma máscara no rosto. A orientação do fisioterapeuta é que elas monitorem a intensidade do exercício, mantendo-a em um nível baixo a moderado para evitar reações como tontura e desmaio.
O que acontece no corpo quando uma pessoa se exercita com máscara
O fisioterapeuta e especialista em ortopedia Scott McAfee explicou que em comparação à respiração normal, o uso de uma máscara facial diminui o fluxo de ar aos pulmões. Isso se traduz em menos oxigênio nos pulmões, menos oxigênio na corrente sanguínea e menos oxigênio nos músculos exercitados, o que dificulta a execução do treinamento.
Com menos ar, o organismo tem menos oxigênio disponível para usar durante o exercício na conversão de glicose (açúcar) em energia, acrescentou o fisioterapeuta. Wickham destacou que o treino com máscara vem acompanhado de um aumento da resistência respiratória e, por isso, é normal perder o fólego mais rapidamente do que o normal.
Segundo McAfee, qualquer pessoa – inclusive os praticantes de nível avançado – devem esperar ter fadiga mais cedo ao se exercitar com uma máscara facial. Wickham afirmou que o praticante não vai conseguir ter o desempenho dos treinos habituais sem a máscara ao se exercitar com ela, ainda que aqueles com nível fitness mais avançado possam não sentir tão duramente os efeitos de treinar com máscara em comparação com alguém que é iniciante.
Conforme o especialista, diferentes máscaras apresentam diferentes níveis de restrição do fluxo de ar, o que depende da espessura (grossura) do material utilizado na produção da máscara. Com o passar do tempo, é esperado que o corpo se adapte e se torne mais eficiente na metabolização do oxigênio mesmo com a restrição trazida pela máscara, apontou o fisioterapeuta.
O que se espera é que quanto mais uma pessoa treinar de máscara, mais acostumado o seu organismo ficará com a diminuição do fluxo de oxigênio. “É difícil contornar sentir-se constringido enquanto usa a máscara. A boa notícia é que os seus pulmões e sistema cardiovascular terão um treino extra enquanto você usa a máscara porque ela fornece uma resistência respiratória extra”, afirmou Wickham.
Entretanto, enquanto aguarda a adaptação, não dá para considerar tudo normal. Para quem sentir vertigem, tontura, muita falta de ar, dormência ou formigamento, o conselho é sentar-se e fazer uma pausa. Nada de forçar a barra: o aparecimento de qualquer um desses sintomas é um sinal que o corpo dá para dizer que algo está errado, que não está recebendo oxigênio o suficiente para os pulmões e para o restante do organismo.
Se os sintomas não melhorarem, a máscara deverá ser retirada para permitir que a pessoa respire normalmente, indicou o fisioterapeuta. Caso seja uma situação mais grave, ligar para o médico é algo que deve ser feito de imediato.
Entretanto, ao tirar a máscara é fundamental tomar os cuidados de prevenção contra o novo coronavírus: lavar bem as mãos com água e sabão ou passar álcool em gel 70% antes de removê-la, retirá-la apenas pelas tiras presas na orelha (nunca pelo tecido central), guardar a máscara em uma sacolinha limpa e fazer isso em um local afastado de outras pessoas.
Depois que se recuperar, deverá ser colocada a máscara reserva – que sempre deve ser levada ao sair na rua, pois as máscaras de pano duram apenas duas horas e as máscaras cirúrgicas devem ser destinadas aos profissionais de saúde – e retornar para casa. Saiba mais a respeito de como usar corretamente uma máscara facial contra o novo coronavírus.
Para quem o uso de máscaras aos se exercitar pode ser contraindicado?
Além disso, Wickham alertou que as pessoas que sofrem com problemas cardiovasculares ou respiratórios necessitam ser especialmente cautelosas em relação à prática de exercícios com máscara no rosto.
De acordo com o fisioterapeuta, é a severidade de cada quadro que vai determinar se a pessoa deve treinar de máscara ou não. Ou seja, é preciso que aqueles que têm esses problemas consultem o médico a respeito do uso de máscara durante a prática de atividade física.
Considera-se que para aqueles que têm um problema respiratório de base, como asma, doença pulmonar obstrutiva crônica, bronquite, fibrose cística, fibrose pulmonar ou outra doença que afete os pulmões, a melhor saída para sua segurança ou para segurança das outras pessoas é se exercitar dentro de casa sem a máscara.
É importante lembrar que as pessoas com doenças crônicas, o que inclui problemas cardiovasculares e problemas respiratórios, fazem parte do grupo de risco da COVID-19, um motivo a mais para ser precavido e ficar em casa.
Com tudo isso em mente
Treinar de máscara não é a coisa mais agradável do mundo e nem a mais segura. Mesmo para as pessoas saudáveis, o risco de se sentir mal devido à restrição do fluxo de ar ao se exercitar pode não valer a pena se houver a necessidade de ir ao hospital. Vale lembrar que as unidades de saúde estão sobrecarregadas devido à COVID-19 e que elas são um ambiente onde há o risco elevado de ser contaminado pelo novo coronavírus.
Por isso, ao menos neste momento em que a pandemia ainda não foi controlada e que a população não foi liberada do uso das máscaras de pano, provavelmente é mais seguro manter os treinos em casa.
Aproveite que está por aqui e conheça alguns treinos aeróbicos para fazer em casa durante a quarentena do novo coronavírus, além de alguns truques para tornar o seu treino em casa mais eficiente durante a quarentena.