Rivotril: os alertas sobre uso contínuo do remédio ‘para emergência’

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Os benzodiazepínicos são um grupo de drogas, do qual fazem parte o clonazepam, o diazepam e o lorazepam, por exemplo, que surgiram como uma possibilidade de tratar a ansiedade, a fobia social, a epilepsia e outras condições psiquiátricas, com menos chances de causar efeitos colaterais; e estão disponíveis nas farmácias desde os anos 1960.

Após algum tempo, o uso na prática mostrou que o consumo desse tipo de medicação, do qual o Rivotril é a marca comercial mais conhecida, requer alguns cuidados, principalmente ao restringir o uso a um curto período de dias ou somente em situações de emergência, conforme orientação de especialistas.

A prescrição e orientação adequadas da medicação estão relacionadas às chances de abuso, tolerância e dependência. O uso contínuo por semanas, meses ou anos pode exigir doses crescentes para manter o mesmo efeito, aumentando os riscos de associação emocional entre a melhora dos sintomas e a necessidade frequente de medicação.

No Brasil, de acordo com os dados da Anvisa, mais de 65 milhões de unidades de clonazepam (Rivotril) foram vendidas em 2022.

Comprimidos espalhados, fundo preto
Em 2022, no Brasil, mais de 65 milhões de Rivotril foram vendidos, segundo a Anvisa

Durante toda a história, as pessoas buscam substâncias capazes de aliviar a dor, melhorar a interação social ou proporcionar um efeito calmante. Durante grande parte dos séculos 19 e 20, os principais ansiolíticos acessíveis eram os barbitúricos — o antigo Gardenal talvez seja o mais conhecido dentro desse grupo.

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Apesar do risco de envenenamento e morte, esses medicamentos eram consumidos em excesso e faziam vítimas, como no caso de Marilyn Monroe (1926 – 1962).

Comprimidos sendo derramados do frasco, fundo preto
Na história, as pessoas procuraram substâncias para alívio da dor, sociabilidade e calma

O surgimento e a popularização dos benzodiazepínicos nos anos 1960 representaram um grande alívio, pois ofereciam maior segurança no uso quando comparados aos barbitúricos.

O farmacêutico André Bacchi, da Universidade Federal de Rondonópolis, no Mato Grosso, diz que as substâncias produzidas pelo organismo têm dois efeitos principais: algumas excitam e estimulam, enquanto outras inibem e reduzem a atividade cerebral.

Os benzodiazepínicos atuam na parte inibitória desse sistema. O principal neurotransmissor com a função de inibir o sistema nervoso é o ácido gama-aminobutírico, ou GABA na sigla em inglês.

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O GABA se conecta a receptores neurais, atuando como um portão celular que permite a entrada de íons de cloro, o que reduz a atividade da célula.

Em uma crise de ansiedade ou epilepsia, o sistema nervoso fica superestimulado, causando sintomas como nervosismo excessivo e convulsões. Os benzodiazepínicos fortalecem a ação inibitória do neurotransmissor GABA nas células nervosas, ajudando o sistema nervoso a se normalizar pouco depois do medicamento ser ingerido.

O sistema GABA responde por cerca de 40% de todos os neurônios no cérebro, o que implica que os efeitos dos benzodiazepínicos afetam praticamente todo o cérebro, resultando em efeitos desejados e indesejados. Por exemplo, o paciente pode se sentir mais calmo, mas também pode experimentar sonolência e ter dificuldade em se lembrar de parte dos acontecimentos desse período.

Devido a esses efeitos, conforme recomendado na bula, o paciente deve evitar dirigir, operar máquinas pesadas e o consumo de álcool durante o tratamento, pois o álcool pode intensificar o efeito sedativo, o que pode resultar em riscos graves, como parada cardíaca ou respiratória, coma e até mesmo a morte.

Um sinal de alerta é o risco de tolerância e dependência, com o uso contínuo levando à perda de efeito e à necessidade de aumentar as doses rapidamente. Especialistas alertam que sintomas de abstinência podem surgir após mais de quatro semanas de uso de Rivotril e medicamentos similares.

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Portanto, as situações em que os benzodiazepínicos podem ser usados com eficácia e segurança são aquelas de caráter emergencial.

Embora as bulas não especifiquem um limite de tempo para cada doença, como epilepsia, transtornos de ansiedade ou humor, síndromes psicóticas, etc., existe uma dosagem e duração específicas que devem ser determinadas pelo médico.

Segundo Bernik, os sedativos não deveriam ser a primeira opção de tratamento quando se podem tentar terapias e antidepressivos em doses baixas.

Conforme o psiquiatra, os benzodiazepínicos podem ser usados durante duas ou três semanas para proporcionar um alívio temporário, até que os antidepressivos comecem a fazer efeito.

Entretanto, o paciente precisa ter consciência de que, após esse período, essa medicação será retirada, uma vez que ela não trata os transtornos, apenas alivia os sintomas durante uma crise. Muitas pessoas que fazem uso por anos, por não terem recebido essa informação, podem precisar passar pelo processo de “desmame” (retirada gradativa) seguindo a orientação de um médico.

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Caso as crises sejam recorrentes e seja necessário fazer o uso da medicação todos os dias, algo está errado e é necessária a avaliação de um especialista.

Por fim, Bernik ressalta que é necessário que a sociedade aceite que as doenças mentais são reais e não uma “frescura”, e que todo esse preconceito social afeta os diagnósticos e os tratamentos.

Você já utilizou Rivotril ou algum outro sedativo? Foi-lhe indicado por quanto tempo? Para tratar qual condição médica ele foi recomendado? Comente abaixo!

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Sobre Valdir Campos

Valdir de Campos Júnior é estudante de jornalismo, e combina sua paixão pela escrita com um forte interesse pelo universo da saúde e boa forma. Valdir é motivado pela curiosidade e pelo desejo de adquirir conhecimento, visando inspirar e informar as pessoas sobre um estilo de vida saudável.

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