Ouvir falar sobre alergia a medicamentos pode soar um pouco estranho. Isso porque estamos acostumados a usar diversos medicamentos para tratar alergias. Mas, e quando a reação alérgica acontece contra um medicamento necessário para tratar algum problema de saúde? Nesse caso, o tratamento que deveria solucionar o problema, acaba criando outro.
A pergunta que o médico faz em consultas: tem alergia a algum medicamento?, pode ser até angustiante, pois como saber se temos, ou não, alergia a algum medicamento? Essa é uma questão complicada, que demanda uma observação atenta da pessoa que suspeita de um determinado medicamento e, também, da experiência do médico.
Para descobrir se você tem, ou não, alergia a algum medicamento, respostas a essas questões podem fornecer pistas:
- Ao tomar o medicamento, quais foram os sintomas estranhos que você notou?
- Após quanto tempo os sintomas começaram?
- Quanto tempo a reação durou?
- Em que período do dia você tomou o medicamento?
- Tomou algum suplemento alimentar, vitamina ou algum fitoterápico, junto ao medicamento?
- Você toma outros medicamentos diariamente? Aumentou a dosagem de algum deles? Ou parou de tomar algum desses medicamentos?
- Já teve reação alérgica contra algum medicamento no passado?
- Tem alguém na família que seja alérgico a algum medicamento?
- Tem alguma outra alergia?
Veja alguns detalhes sobre alergia a medicamentos, que podem esclarecer essas questões e direcionar ao tratamento desse problema.
O que é alergia ao medicamento?
Alergias a medicamentos são um grupo de sintomas causados pela reação alérgica a determinado medicamento. O sistema imunológico promove uma resposta contra o medicamento, como se ele fosse uma substância nociva e produz uma resposta alérgica contra ele.
Qualquer medicamento pode causar alergia, não importa se são comprados livremente, sem receita, ou se foram prescritos pelo médico. Nem mesmo os remédios fitoterápicos estão isentos do risco. Mas, é claro, existem alguns medicamentos que causam alergia com mais frequência nas pessoas.
Os medicamentos que mais comumente geram uma reação alérgica, segundo a ACP Medicine Journal, são:
- Anticonvulsivos: hidantoína, fenobarbital e carbamazepina;
- Insulina, de origem animal;
- Radiocontraste: contraste iodado;
- Antibióticos: beta-lactâmicos (penicilinas e cefalosporinas), sulfas, nitrofuranos;
- Aspirina e fármacos antiinflamatórios não esteróides, como o Ibuprofeno;
- Agentes quimioterápicos: cisplatina, estreptoquinase, taxanos;
- Anticorpos monoclonais: anti-fator de necrose tumoral e anti-CD20.
A resposta imunológica contra a droga pode não causar sintomas na primeira vez em que a pessoa toma o medicamento. Mas, os sintomas da alergia podem aparecer na segunda vez em que ela utilizar o medicamento.
Isso acontece porque, em um primeiro contato, o organismo ainda não apresenta anticorpos contra a substância. Mas, após essa primeira exposição, o sistema imunológico começa a produzir anticorpos para combatê-la, gerando os sintomas nas próximas exposições à droga.
Sintomas da alergia ao medicamento
Os sintomas podem ser leves, aparecendo erupções na pele e coceira. Ou podem ser muito graves, que são casos raros mas, quando acontecem, podem ser fatais, se não tratados com urgência.
Esses sintomas estão associados a substâncias como a histamina, produzida pelas células e anticorpos do sistema imune.
Os sintomas mais comuns são:
- Erupções cutâneas (bolinhas ou vergões vermelhos na pele);
- Coceira nos olhos;
- Olhos vermelhos e lacrimejantes;
- Inchaço dos lábios, língua ou do rosto;
- Sibilos (chiado no peito);
- Febre;
- Nariz escorrendo.
Uma reação alérgica grave consiste na anafilaxia, para a qual o tratamento deve ser imediato, pois ela é potencialmente fatal. Os sintomas de uma anafilaxia envolvem todos os sistemas do corpo:
- Dor ou cãibras abdominais;
- Confusão mental;
- Perda da consciência;
- Muita dificuldade para respirar, devido ao inchaço das vias respiratórias, principalmente da garganta;
- Respiração com sibilos (chiado);
- Vertigem;
- Desmaio;
- Aparecimento de urticárias em várias partes do corpo;
- Náuseas;
- Frequência cardíaca elevada;
- Diminuição da pressão arterial;
- Palpitação.
Como descobrir se tenho alergia a algum medicamento?
É importante diferenciar entre uma reação que acontece por um efeito colateral do medicamento e uma reação alérgica. As reações por efeitos colaterais não envolvem a atividade do sistema imunológico, e estão descritas na bula.
A alergia ao medicamento também não deve ser confundida com a toxicidade, que está associada a uma superdosagem da droga, o que também produz efeitos adversos e deve ser evitada.
O problema em confundir um efeito colateral com uma alergia é que o paciente pode deixar de ser tratado com o medicamento, quando ele era a melhor opção para aquele problema de saúde. Outro problema é que algumas substituições envolvem um maior gasto financeiro, já que os medicamentos alternativos podem ser mais caros do que o medicamento convencional.
Por isso, é importante fazer um relato bem detalhado para o seu médico e até levar fotos de algum sinal que apareça na pele. Essas informações o ajudarão a chegar ao diagnóstico correto.
Existem testes de sensibilidade feitos na pele para avaliar se a pessoa tem alergia ao medicamento. O alergista aplica uma pequena quantidade do medicamento sobre a pele, com uma agulha, injeção ou adesivo. O resultado positivo é indicado pela vermelhidão no local da aplicação, coceira ou uma erupção cutânea (bolinhas vermelhas ou vergões na pele).
Tratamento para a alergia ao medicamento
O tratamento da alergia ao medicamento vai depender da gravidade dos sintomas. As seguintes medidas podem ser adotadas:
- Suspensão do medicamento: esta é, geralmente, a primeira medida adotada pelo médico, pois o objetivo é parar a reação alérgica tirando aquilo que causa a alergia;
- Substituição do medicamento: para a maioria dos problemas de saúde, existem mais de uma opção de tratamento. Sendo assim, o médico pode substituir o medicamento que causou a alergia, por outro, que tenha o mesmo efeito no tratamento do problema de saúde;
- Anti-histamínico: alivia os sintomas leves, como vermelhidão, vergão, bolhas e coceira na pele. Isso porque esse medicamento bloqueia a produção de histamina, substância produzida na reação alérgica, que dá origem aos sintomas;
- Broncodilatadores: aliviam os sintomas parecidos com os da asma, como a respiração com chiado e a tosse, pois dilatam as vias respiratórias, permitindo que as trocas gasosas aconteçam com mais facilidade;
- Corticosteroide por via oral, cutânea ou intravenosa agem na inflamação, sendo muito usados em casos de emergência;
- Epinefrina (adrenalina) por injeção, para o tratamento urgente da anafilaxia.
Há casos em que o medicamento que causa a alergia não pode ser substituído por outro, no tratamento de alguma doença. Nesse caso, o alergista é o profissional que aplica um tratamento chamado dessensibilização.
Como é feita a dessensibilização ao uso do medicamento que causa alergia
Inicialmente, são administradas doses baixas do medicamento, e o alergista vai aumentando a dosagem aos poucos, a cada 15-30 minutos, para que o organismo crie tolerância para aquela droga. O tratamento continua dessa forma até atingir a dose necessária para tratar o problema de saúde. Caso não ocorra nenhuma reação alérgica nesse processo, a droga é administrada na dosagem necessária ao tratamento da doença.
Nos casos em que é necessário realizar uma radiografia com contraste, mas a pessoa tem alergia ao contraste iodado, o médico pode fazer um pré-tratamento com medicamentos que bloqueiam a ação do sistema imune, como corticosteroides (Prednisona) e anti-histamínicos, impedindo que ele responda ao medicamento com uma reação alérgica.
Esses tipos de tratamentos nos quais o paciente é colocado em contato com o medicamento que causa alergia, são supervisionados pelo médico e por enfermeiros, que ficam em alerta para adotar medidas para tratar a alergia de imediato.
Orientações
Uma vez que você saiba que tem alergia a algum medicamento, comunique ao médico e ao dentista, sempre que for fazer uma consulta ou iniciar algum tratamento. Isso ajuda os profissionais de saúde a planejarem um tratamento que não traga complicações, como uma crise alérgica.
Se você já teve uma reação anafilática, tenha mais cuidado ainda, tomando providências que evitem um novo contato com o medicamento que te deu alergia. Nesses casos, é comum as pessoas tatuarem ou usarem pulseiras, indicando a alergia que possuem.
Fontes e referências adicionais
- Alergias farmacológicas (artigo traduzido para a Língua Portuguesa), MedicinaNET
- Alergia: tudo o que você precisa saber sobre o tema, Hospital Israelita Albert Einstein
- Antibióticos beta-lactâmicos podem causar reações alérgicas, Jornal da USP
Fontes e referências adicionais
- Alergias farmacológicas (artigo traduzido para a Língua Portuguesa), MedicinaNET
- Alergia: tudo o que você precisa saber sobre o tema, Hospital Israelita Albert Einstein
- Antibióticos beta-lactâmicos podem causar reações alérgicas, Jornal da USP