Bactérias na urina (bacteriúria): como identificar no exame, causas e o que fazer

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A bacteriúria corresponde à presença de bactérias na urina, verificada no exame de urina tipo 1, aquele que analisa a primeira urina da manhã. 

É importante saber que ter bactérias presentes na urina não significa que você esteja com uma infecção urinária, principalmente se não apresentar sintomas. Uma das possibilidades para a presença de bactérias na urina é a contaminação da amostra, no momento da coleta. 

O dado de presença ou ausência de bactérias na urina não é analisado isoladamente, mas compreendido a partir de outras informações que se obtém do exame de sedimentos, como o pH da urina e a presença de algumas substâncias, dentre elas as proteínas, leucócitos, nitritos, cetonas e hemácias. 

A partir deste conjunto de informações, o médico ou a médica que solicitou o exame de urina pode pedir exames complementares para investigar melhor a bacteriúria ou já tratar a situação com antibióticos, considerando o seu estado geral de saúde. 

Veja mais detalhes sobre a bacteriúria, como identificar as bactérias na urina, quais são as possíveis causas desse problema e o que fazer em cada situação. 

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Como identificar bactérias na urina: exames

Exame de urina
Um exame de urina tipo 1 é responsável pelos diagnósticos

Algumas informações obtidas no exame de urina tipo 1 (EAS: Elementos Anormais do Sedimento) podem sugerir a presença de bactérias na urina, são elas:

  • pH: o pH da urina é naturalmente ácido, ficando entre 5,5 e 6,5, enquanto o pH do sangue fica em torno de 7,4. Quando o resultado do exame indica um valor de pH mais alto, ou seja, mais alcalino, pode ser um indicativo de presença de bactérias, pois elas deixam a urina mais alcalina. 
  • Nitritos: a urina contém substâncias chamadas nitratos, e algumas bactérias são capazes de transformá-las em nitrito. Portanto, a presença de nitrito no laudo do exame é outro indicativo da presença de bactéria na urina. 
  • Hemácias e leucócitos: a presença de hemácias e de leucócitos em uma amostra de urina, que também apresenta nitritos em sua composição, aponta fortemente para a uma infecção urinária, uma vez que existem elementos do sistema imunológico e sinais de presença de bactérias, ao mesmo tempo. 
  • Cristais de estruvita: a detecção de cristais de magnésio-amônio-fosfato (estruvita ou fosfato triplo) combinada a um pH alcalino sugerem uma infecção urinária causada por bactérias dos gêneros Proteus e Klebsiella.
  • Sedimentoscopia: um dos parâmetros de sedimentoscopia é a presença ou ausência de bactérias. Um resultado positivo indica a presença de bactérias. 

Quando esses parâmetros do exame de urina tipo 1 indicam a presença de bactéria na urina, com potencial de representar uma infecção urinária, o médico ou médica pode solicitar o exame confirmatório deste problema, que é a urocultura

Urocultura

A urocultura é o exame que, de fato, foi desenvolvido para identificar a presença de bactérias na urina. 

Os rins, a bexiga e a uretra são locais naturalmente estéreis, ou seja, livre de bactérias. Logo, a presença de bactérias na urina pode indicar uma infecção urinária ativa ou apenas a colonização da uretra por bactérias que estavam habitando a região perianal, sem causar, necessariamente, uma infecção. Este último caso é chamado na medicina de bacteriúria assintomática.

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No exame de urocultura, a urina é colocada em um meio de cultura, que fornece as condições e os recursos necessários para as bactérias crescerem e se reproduzirem. 

Caso as bactérias estejam presentes, elas formarão colônias em 48 horas, possibilitando a identificação da espécie e, consequentemente, do antibiótico capaz de combatê-la (antibiograma).  

Possíveis causas de bactérias na urina

As possíveis causas de bacteriúria são:

Bacteriúria assintomática

A bacteriúria assintomática é uma condição em que se detecta a presença de bactérias na urina, porém a pessoa não apresenta nenhum sinal ou sintoma de infecção urinária

Os fatores de risco envolvidos na bacteriúria assintomática são:

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  • Mulheres jovens com vida sexual ativa.
  • Homens idosos com hiperplasia prostática (próstata aumentada) ou pedras nos rins, que causam uma obstrução no trato urinário. 
  • Homens e mulheres idosos com doenças neuromusculares que prejudicam o funcionamento da bexiga.
  • Mulheres no período da menopausa, que sofrem uma mudança da microbiota natural (flora bacteriana) da vagina.
  • Mulheres gestantes.
  • Pessoas com diabetes.
  • Pessoas que precisam utilizar cateter vesical.

Normalmente, a espécie de bactéria identificada nessas condições é a Escherichia coli, que costuma habitar o trato gastrointestinal e, consequentemente, está presente na região perianal. 

Como a uretra das mulheres é menor que a dos homens, as bactérias da região perianal podem chegar com mais facilidade até ela. Alterações hormonais e outras condições clínicas comuns do envelhecimento também facilitam a chegada das bactérias da região genital aos órgãos mais profundos da cavidade pélvica. 

Já nos pacientes que fazem uso de cateter vesical, é comum haver a presença de bactérias de várias espécies, não só a Escherichia coli. Neste caso, eles podem apresentar uma bacteriúria assintomática polimicrobiana

O que fazer

Não é indicado que pessoas com bacteriúria assintomática façam tratamento com antibióticos, nem mesmo que façam o exame de urocultura. Isto porque, se não há sintomas, não é viável administrar antibióticos, pois eles podem, na verdade, levar a um quadro de infecção urinária, ao provocarem um desequilíbrio na microbiota intestinal e vaginal. 

Na grande maioria dos casos, a bacteriúria se resolve naturalmente, sem nenhum tipo de intervenção medicamentosa. 

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Os casos de bacteriúria sintomática só devem ser tratados e investigados com um exame de urocultura nas seguintes condições: 

  • Gravidez: mulheres gestantes que apresentam bacteriúria apresentam maiores chances de sofrerem um parto prematuro, de seu bebê nascer com baixo peso ou de desenvolverem um quadro de pielonefrite (infecção dos rins). Por causa desses riscos, as gestantes devem ser tratadas com antibióticos e examinadas com a urocultura. Veja mais detalhes sobre a infecção urinária na gravidez.
  • Pessoas que passarão por uma cirurgia no trato urinário ou procedimentos urológicos invasivos: procedimentos e cirurgias no trato urinário podem causar lesões na mucosa desse sistema, deixando uma porta de entrada para bactérias que estejam presentes na urina. Para evitar complicações pós-cirúrgicas ou até danos a um rim transplantado, os pacientes são tratados com antibióticos quando apresentam bacteriúria assintomática.

Em todas as outras situações, não se faz o tratamento da bacteriúria assintomática, pelos riscos de desenvolvimento de bactérias resistentes e dos efeitos colaterais dos antibióticos. 

Contaminação da amostra

A presença de bactérias na urina pode não representar nenhum problema de saúde, visto que pode ser resultado da contaminação da amostra, por alguns fatores externos, como:

  • Uso de um copo coletor não esterilizado.
  • Armazenamento inadequado da amostra de urina, que propicia o crescimento de bactérias.
  • Falta de higienização da região íntima antes da coleta da urina.
  • Não desprezar o primeiro jato de urina.

Geralmente, quando a presença de bactérias na urina ocorre por causa desses fatores externos, a amostra apresenta muco, células mortas do epitélio da região genital e ausência de leucócitos, que são as células de defesa. 

O que fazer

Quando não há nenhuma outra alteração no exame de urina, além do número aumentado de bactérias, o médico ou médica pode simplesmente desprezar o resultado, visto que é um forte indicativo de contaminação da amostra e não de um problema de saúde que precise de tratamento. 

Caso não haja certeza de que se trata de uma contaminação, você pode ter que repetir o exame, seguindo as orientações para uma coleta eficiente, como higienização da região genital, desprezo do primeiro jato de urina e entrega da amostra ao laboratório em até 60 minutos. 

Infecção urinária

Infecção urinária
Ardência e urgência para urinar são sintomas comuns da infecção urinária

A infecção urinária, ou cistite, é um problema muito comum entre as mulheres, devido às características anatômicas da uretra, que é menor do que a dos homens. 

A infecção urinária se desenvolve quando as bactérias que deveriam estar limitadas ao trato gastrointestinal colonizam a região perianal e conseguem penetrar na uretra e atingir a bexiga. Em casos mais graves, essas bactérias podem chegar até os rins, constituindo um caso de pielonefrite.

No caso das infecções urinárias, os sintomas sempre estão presentes, diferentemente do que ocorre na bacteriúria assintomática. São eles:

Se esses sintomas piorarem e forem acompanhados de febre, dor lombar, vômitos, perda de apetite e sensação geral de mal-estar, pode ser o caso de uma infecção dos rins, que é uma situação mais grave e que pode levar à sepse, uma infecção generalizada de alto risco. 

O que fazer

A infecção urinária deve ser tratada com antibióticos, que precisam ser tomados corretamente para evitar infecções de repetição e a evolução para um quadro clínico de pielonefrite. 

Normalmente, o tratamento é feito com sulfametoxazol com trimetoprima (Bactrim®), ciprofloxacino ou norfloxacino, derivados de penicilina, fosfomicina ou nitrofurantoína.

As pílulas de cranberry (oxicoco), um suplemento natural feito com uma frutinha vermelha da família das amoras, podem ajudar a reduzir a frequência de infecções urinárias. O uso da vacina Uro-Vaxom por três meses também pode beneficiar pessoas que têm infecções urinárias de repetição pela bactéria Escherichia coli.

Fontes e referências adicionais

Você já teve um resultado de bactérias na urina no laudo do seu exame? O que seu médico ou médica fez com esse resultado? Teve que fazer tratamento com antibióticos? Comente abaixo!

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Sobre Dra. Akemi Martins

Dra. Akemi Martins Higa é bióloga, formada pela Universidade Federal de São Carlos em 2011. Doutora na área de Medicina Tropical e Saúde Internacional, com ênfase em doenças neurodegenerativas, pela Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de nanotecnologia e imunologia aplicada ao diagnóstico de neuromielite óptica e esclerose múltipla. Para mais informações, entre em contato.

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